domingo, 28 de agosto de 2011

Educação, crianças e tecnologia

Há dez anos, seria inimaginável uma criança ir à escola e ter como primeira lição, o uso do mouse. Imagino que muitos que estão lendo esse texto, deve ter passado horas e horas aperfeiçoando a letra em cadernos de caligrafia. No entanto, essa já é uma realidade para crianças estadunidenses. Uma lei torna o ensino da letra cursiva opcional no estado de Louisiana, e a pretensão é que seja implementada em outros 40 estados. Os defensores da proposta, os Common Core State Standards Initiative (Iniciativa para um Padrão Comum de Currículo), responsável por padronizar o ensino nas escolas do país, dizem que com o advento das novas tecnologias, e a interação que as crianças já têm com esses meios, seria  desnecessário o uso da letra cursiva, quando a mesma já não é o foco atual.
Tudo o que fazemos atualmente, envolve computadores, tablets, celulares, e não nos preocupamos muito com a letra cursiva, com isso, presenciamos letras cada vez mais ilegíveis. Se compararmos nossa escrita, com a das nossas mães, tias ou avós, a perda de qualidade é gritante. E será isso um benefício? Quais seriam os equívocos? Será que estamos abandonando de vez o lápis? Os opositores dessa lei alegaram que a escrita não é só um fazer, é um ato social e cultural, e tirar esse processo da vida escolar de uma criança poderá trazer malefícios, além de representar em parte, a personalidade das pessoas.

Uma pesquisa realizada pelo Fundo Nacional de Alfabetização do Reino Unido, "The National Literancy Trust", confirma que a criança que é estimulada a escrever, se desenvolve melhor. Para a professora da PUC Rio, Sonia Kramer, a escrita é uma experiência, e muito importante por sinal. Segundo ela, um diário, uma autobiografia ou  um pequeno relato, já é uma ajuda na formação, sobretudo de crianças.

Para a professora e pesquisadora em escrita da UFBA, Lícia Beltrão, a caligrafia é muito importante para a criança e está ligada a questões culturais. Podemos encerrar com uma interrogação proposta por ela, e que pode ser nossa também: abolir e abolir por decreto, a letra, (um tipo dela) invento que faz do criador a criatura que se  inscreve e se escreve na narrativa do mundo, no mínimo, não é atitude com que se interrompe o curso de uma história, propondo-se outra diametralmente oposta à noção de invenção?

Vale a pena conferir também uma entrevista com a professora Sonia Kramer transcrita no blog "Programa Ler e Escrever".

Leituras Recomendadas:

CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. Tradução Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: Ed. UNESP, 2002.
KRAMER, Sonia. Leitura e Escrita como experiência - seu papel na formação de sujeitos sociais. Revista Presença Pedagógica. jan/fev2000.

Por Raquel Santana

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