segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Iphone salvou a minha vida!



Manter as crianças longe dos aparelhos tecnológicos tem sido cada vez mais difícil. Para alguns pais, a tecnologia é um obstáculo no que se refere à comunicação com seus filhos: é difícil conversar, fazer refeições, manter e fortalecer relações naturais. Participar da vida de crianças que já nascem num meio modificado por grandes invenções tecnológicas, tem se tornado um desafio constante para os pais da nova geração, pois para entrar no cotidiano dos filhos é necessário aprender a jogar vídeo games, usar o computador, presentear sempre com os melhores lançamentos dessa indústria e conseguir está um passo a frente deles quando o assunto são aparelhos eletrônicos.
Todavia, não se pode esquecer, que a nova geração é fruto de gerações anteriores que não apenas ajudaram a formar essa necessidade de está conectado com um mundo que vai além das paredes de sua casa, como também ajudaram a mantê-la. As crianças são o reflexo daqueles que as cercam, seja em casa ou na escola, seja na frente de computadores ou na frente de televisores, dessa forma, tentar mantê-las distante desse mundo tecnológico é como tentar viver sem tecnologia nos dias atuais.
Segundo Laís Fontenelle Pereira (mestre em psicologia Clínica pela PUC-Rio e coordenadora de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana) “Crianças aprendem com modelos e por isso nosso discurso deve ser coerente com nossos atos.” Para alguns especialistas nessa relação criança e tecnologia, há um perigo ainda maior que a distância entre pais e filhos.
Para Susan Linn, professora de psiquiatria na Harvard Medical School (Boston, EUA) e diretora associada do Media Center do Judge Bakel Children’s Center, permitir que as crianças tenham o mesmo contato com o universo tecnológico que os adultos é permitir que a sua infância seja roubada, em seu livro Crianças do consumo: Infância Roubada, ela deixa claro sua preocupação ao afirmar que, ”o marketing para crianças enfraquece os valores democráticos, ao encorajar passividade, conformismo e egoísmo. Ameaça a qualidade do ensino, inibe a liberdade de expressão e contribui para problemas de saúde pública como obesidade infantil, dependência de tabaco e consumo precoce de álcool.”
Pensando nisso e convivendo com isso no dia a dia foi que Maria Silvia de Andrade (35 anos) mãe de Gabriel (8 anos) e pedagoga, sempre preocupou-se com a relação tecnologia e criança. Segundo ela, sempre foi defensora de que os pais devem ser responsáveis o suficiente para determinar o que os filhos devem consumir e não o contrario. “Criança tem que ser Criança, brincar de pique esconde no intervalo da escola e não de jogos eletrônicos, conversar gritando com os coleguinhas e não no silêncio das mensagens de texto, sempre fui a favor disso, era assim quando era criança e nem por isso deixei de ser feliz.” Esse pensamento de Silvia sempre foi o grande embate entre ela e seu marido desde que Gabriel nasceu principalmente porque, ele sempre foi apaixonado por tecnologia: “Lançamento pra ele é uma palavra mágica”. Ela não queria que a chance de viver essa fase infantil fosse tirada de seu filho, não queria que ele crescesse antes do seu próprio tempo, “pensava que tecnologia era algo necessário para adultos, porque os problemas tornam-se mais fáceis de serem resolvidos, e que problemas uma criança pode ter? Meu filho hoje tem oito anos e ainda faço questão de trazê-lo ao parque”, mesmo assim não foi possível para Silvia manter essa distância, segundo ela, o pai sempre manteve o filho em contato com esse universo, “aos 4 anos ele já sabia ligar o computador e ligar para o avô do celular, segurava o aparelho  de uma forma que nem eu mesma conseguia segurar, ficava um pouco impressionada e chateada ao mesmo tempo”. Porém essa aversão de Silvia ao uso de tecnologia pelas crianças mudaria, em um relato impressionante, ela revelou: “Sempre achei que manter crianças e tecnologia num mesmo nível transformaria a nova geração em uma geração mais consumista do que a atual, mais certos conceitos foram mudados quando o iphone salvou minha vida”. Silvia contou que em uma viagem para a casa do seu sogro (Paulo Afonso - BA), ela começou a sentir-se mal, lembrando apenas de dizer ao seu filho “ligue pro seu pai, mamãe está passando mal”, na época Gabriel tinha acabado de completar seis anos e ela havia ganhado um Iphone que – de acordo com a mesma – ainda não sabia usar, quando acordou ficou sabendo que tinha sofrido sintomas de um principio de AVC. O seu marido contou que conseguiu encontrá-los depois da ligação de Gabriel. Segundo Silvia tudo em que conseguia  sentir naquele momento, era uma enorme vontade de agradecer ao inventor do iphone, mas na falta deste, contentou-se em dizer obrigado ao seu marido por ensinar Gabriel a usar o aparelho.
É verdade que as crianças não são mais como antigamente, é verdade que pais e filhos não sentam a mesa para tomar café juntos, mas, também é verdade que as cidades não são mais as mesmas e que até mesmo os pequenos interiores rederam-se as características das grandes cidades, a tecnologia mudou nossa vida e conseqüentemente antigas e novas gerações. Vivemos na era das grandes inovações, do consumismo que sustenta os grandes mercados e que esses mercados pensando sempre um passo a frente, investem, criam formas de sustentarem seu modelo, fazendo da futilidade uma característica que pode ser confundida com virtude, mas, não se pode negar que a mesma tecnologia que separa pais e filhos em determinados momentos, transforma tradições, aumenta o consumismo e diminui o nosso tempo é a mesma que salva vidas, destrói a distância, amplia nossas capacidades e supera nossos limites. Viver nos dias atuais requer entender que a tecnologia é a descoberta de um novo mundo e que privar as crianças dela é  também privá-las de participar dele!
Por Adrielle Magly

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mamãe eu quero um Ipad!



Há algum tempo se você perguntasse para uma criança o que ela queria ganhar de presente, ela provavelmente responderia uma boneca ou um carrinho, talvez um jogo de tabuleiro. Hoje não é difícil supor que ela vai pedir algum aparelho eletrônico, pesquisas já provaram que esta já é uma realidade. Mas já faz tempo que os jogos eletrônicos, por exemplo, fazem a cabeça das crianças e agora estão cada vez mais sofisticados.

É fato que muitas mudanças ocorreram passamos pela polêmica dos celulares, que promoveu o debate sobre o uso dos celulares cada vez mais cedo pelas crianças e resultou na proibição do aparelho em muitas escolas. Hoje o celular continua indispensável, porém muito mais atrativo, assim como os Ipads, Ipods e outros aparelhos, que surgem a todo instante cada dia mais inovadores e exercem enorme fascínio sobre adultos e crianças, estes, são bombardeados pelas arrojadas propagandas que embutem o produto. Hoje, esse público amplo é aproveitado, e se antes a polêmica estava em crianças deixarem de “brincar” para entrar num mundo mais adulto, agora, se depender dos produtores, não há mais desculpas para contrariar suas inovações, já que eles aproveitaram o filão do mercado infantil para criar aparelhos exclusivos para as crianças. Mas será que podemos dizer que estes novos “brinquedinhos” preenchem de verdade a infância? Até que ponto a criança é prejudicada? Ou podemos dizer que isto é absolutamente normal nos tempos de hoje? Os esportes, as atividades em grupo são prejudicadas?

A professora da Harvard Medical School, Susan Linn lançou em 2008 o livro Em Defesa do Faz de Conta, título original: The case for make believe, que aborda como as novas tecnologias junto ao apelo comercial podem desestimular a capacidade criativa das crianças e o desenvolvimento de uma infância saudável. Ela defende que a tecnologia sofisticada e toda a publicidade envolvida nela formam uma combinação que prejudica o desenvolvimento social da criança e que é preciso assegurar as atividades infantis saudáveis como àquelas em que há o contato com a natureza.

Por outro lado, um projeto de pesquisa elaborado com alunos de graduação do Departamento de Psicologia da PUC – Rio e orientado pela professora Maria Inês Garcia de Freitas Bittencourt, apesar de constatar a imobilidade de certas crianças face o materialismo das tecnologias, percebeu que há também uma apropriação pessoal das situações de consumo no mundo virtual, um exemplo são as crianças e os adolescentes que se “transformam” em personagens de animes e desenhos animados, e para participar de concursos de fantasias envolvendo os heróis das histórias, têm de criar modelos de roupas, fazer a maquiagem e treinar a expressão e as atitudes dos personagens, além de encenar trechos do desenho através de teatro e dança, o que estimula a atividade e a criatividade.


Outra questão preocupante envolvendo este assunto é a idéia de que o consumo e a vontade de consumir são ampliados. Já que consumo e tecnologia andam de mãos dadas e as novidades tecnológicas não param. As crianças, portanto, também estão à mercê dessas mudanças e da rápida obsolescência desses produtos, logo, também são atingidas por essa ansiedade que se vê hoje entre os adultos, principalmente os mais jovens. Já temos então uma geração consumista? Ou pior, dependente? São conclusões que podem ser precipitadas, mas é importante que se discuta o problema já que as crianças não têm maturidade suficiente para entender o que realmente precisam no início das suas vidas e os prejuízos e conseqüências que podem sofrer.



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Violência virtual

Mês passado foi lançado o livro "Cyberbullying e outros riscos na internet: despertando a atenção de pais e educadores" da psicóloga Ana Maria Albuquerque Lima. O livro chama a atenção, principalmente dos pais, para um assunto que traz sérios riscos sociais e psicológicos para as crianças: a violência simbólica praticada na internet.

A inserção da tecnologia na vida dos seres humanos mudou o padrão de vida das pessoas. Seus avanços interferiu em todas as etapas da vida humana e modificou nossos padrões sociais. Desde muito cedo somos expostos a um mundo eletrônico e impelidos a interagir com ele, mas aprender a lidar com esses meios quando ainda não temos maturidade para distinguir o certo do errado, é uma tarefa muito difícil. Por isso, a supervisão das crianças, quando estiverem usando meios como a internet, é fundamental para que elas não sejam nem agressoras, nem vítimas de violência online.

O cyberbullying é uma prática que pode ser claramente perceptível em várias comunidades do orkut ou em blogs, mas pode ser praticados também por e-mail, torpedos, entre outros. Ele é caracterizado pela hostilização de uma pessoa por meio de tecnologias da informação e é diferente do bullying
por ser praticado essencialmente de forma virtual, o que dificulta na punição dos agressores.

O desenvolvimento e o apropriamento dos recursos tecnológicos da informação - especialmente da internet e dos telefones móveis - aliados ao despreparo ético dos usuários, que não utilizam estes recursos de forma responsável, e somados com a possibilidade do anonimato e com a certeza da impunidade, converteu a ciberviolência em um problema social.


Segundo Ana Maria o cyberbullying é um termo amplo e pode ser dividido em oito modalidades: Provocação incendiária, assédio, difamação, roubo de identidade, violação da intimidade, exclusão, ameaça cibernética e o Happy Slapping, interface mais  nítida entre o bullying presencial e o virtual. Este tipo de violência é gerado pela divulgação de vídeos mostrando cenas de agressão física, onde uma vítima pode ser escolhida, de forma intencional ou não, para ser agredida na rua. A violência praticada geralmente é gravada com câmeras de celular ou filmadoras e posteriormente o vídeo é postado em sites como o You Tube, visando humilhar ainda mais a pessoa agredida.


As tradicionais brincadeiras foram quase abandonadas, hoje as crianças preferem se divertir virtualmente. Mas é sempre bom ter cuidado, para que a diversão não transforme-se em traumas. A infância é um período que exige atenção redobrada, principalmente por que durante este tempo vivemos em um mundo de fantasias e não estamos capacitados para tomar decisões importantes, ao usar as tecnologias digitais.

Ana Maria afirma que até os 10 anos de idade é fundamental que os pais usem recursos para selecionar os ambientes virtuais que a criança pode usar e principalmente navegar em conjunto, como por exemplo, o parental control. Depois, aos 13 anos, se o pré-adolescente mostrar um comportamento responsável, os pais podem deixá-lo navegar sozinho e dar mais liberdades, porém sempre monitorando o uso e deixando o computador disponível em um lugar comum da casa, como a sala.

Fazer este controle é mais difícil quando o acesso a internet não é feito em casa. Nas chamadas lan houses, várias crianças fazem a utilização de computadores sem nenhuma fiscalização. Visando evitar a exposição prolongada de crianças e adolescentes a jogos eletrônicos e ao uso inadequado da internet, o Ministério Público Baiano expediu uma recomendação para as lan houses dos municípios de Barra da Estiva, Mucugê e Ibicoara. Nestas regiões o acesso de crianças menores de dez anos as lan houses só será permitido na presença dos pais ou responsáveis legais, os pais deverão acompanhar a criança durante todo o tempo de permanência no estabelecimento. Para os maiores de dez anos a permanência só deverá ser permitida mediante a apresentação de autorização por escrito dos pais.


Os pais devem estar atentos a alguns sinais de seus filhos para identificar se eles são vítimas do cyberbullying, tais como: ansiedade após o uso da internet; aparentando certa pertubação; diminuição do tamanho da tela sempre que um adulto passa por perto; o cuidado em apagar o histórico dos sites navegados; isolamento em relação à família e aos amigos e baixa auto-estima.


A ciberviolência causa o adoecimento emocional das pessoas e pode trazer prejuízos incalculáveis quando a vítima ainda está na infância. Cabe aos pais auxiliar no estabelecimento de regras e manter um diálogo sobre o que a criança deve fazer na rede, para que seus filhos possam aprender a utilizar as mídias sociais com responsabilidade.


Um caso de bullying que ficou mundialmente conhecido devido ao uso da internet foi o do garoto australiano Casey Heynes, apelidado de Zangief Kid (devido a comparações com Zangief, um personagem do game de luta: "Street Fighter"), abaixo segue a reportagem que o Jornal Hoje apresentou no dia 22 de março:



|Para comprar o livro "Cyberbullying e outros riscos na internet: despertando a atenção de pais e educadores" da psicóloga Ana Maria Albuquerque Lima. Clique aqui.

Por Ana Paula Lima